29.5.06



Estou em busca de um livro e não acho o dito cujo em nenhuma livraria. O pior é que o tive nas mãos no stand da editora, durante o congresso, mas achei que o encontraria fácil depois.

Aproveitando o horário de almoço, fui até a livraria que fica em frente ao prédio do meu escritório ver se lá tinha o livro que eu quero comprar.

Adoro livros e adoro comprar livros, mas não consigo me situar direito na organização e arrumação deles nas livrarias. Acho que meu cérebro não consegue muito decifrar a lógica que eles usam para arrumar os benditos. Procura daqui, procura dali. Entorta a cabeça pra direita pra ler o que estão colocados com o nome de cima pra baixo. Entorta a cabeça pra esquerda para ler os com nome de baixo pra cima. Chega uma hora que o pescoço começa a doer, e os olhos arder.

Desisto. Já nem consigo mais registrar os nomes que leio. O jeito é procurar um vendedor. Um parêntese para dizer que não acho graça em perguntar pro vendedor se tem o livro tal. Gosto, mesmo que quase nunca eu consiga encontrar, de olhar nas prateleiras até achar o que quero, ao mesmo tempo que descubro outros, que no momento nem quero, mas que passo logo a querer.

O vendedor estava atendendo uma mulher, uma daquelas que acha que só existe ela no mundo a ser atendida e que o vendedor está ali para atender a ela. Cinco minutos de espera e a mulher a bom falar sobre um monte de coisas, com a maior calma do mundo. E eu olhando pro relógio e vendo os minutos passarem.

Pensei com meus botões: essa mulher vai ficar a tarde toda aí, falando sem parar sobre esse monte de coisa e eu tenho que voltar pro trabalho. Já começando a me irritar, mas tentando conter a irritação. Outro parêntese: estou determinada a reduzir pelo menos pela metade a quantidade de vezes que me irrito com coisas que não tem importância... já consegui reduzir uns 30%, melhor que nada. E nessa tentativa de conter a irritação, começo a olhar os livros da prateleira que estava a meu lado. Dou de cara com o novo livro do James Hunt, o tal do Monge e o Executivo. Peguei o bicho pra dar uma olhada enquanto esperava. Folheio daqui, folheio de lá, leio a orelha (toda), olho os tópicos que o livro aborda, folheio de novo e a tal mulher ainda está falando sem parar.

A danada da irritação começa a dar sinal de vida novamente e eu na luta para ela não tomar conta de mim. Olho para todos os lados na tentativa de encontrar uma saída e vejo um outro vendedor disponível lá no final da livraria. Saio em disparada, mas outra mulher (parece praga isso) é mais rápida do que eu e chega primeiro. Parecia até a galera entrando nos trens do Metrô as 18 horas, voltando para casa depois do trabalho. Quem já viu e viveu sabe do que estou falando.

Nessa altura a irritação já estava dando pulos de alegria pois tinha conseguido vencer a competição. Mas mesmo muito irritada mantive a linha e esperei.

Enfim consegui ser atendida. Depois de uns 5 minutos tentando fazer o vendedor entender o que eu estava querendo, assumi a operação do terminal de consulta e descobri o que eu queria. O resultado? Não tinha o livro naquela livraria também.

A irritação nesse momento estava desfilando na avenida, ao som de uma bateria completa de escola de samba, com pelo menos uns 100 componentes, e sob o aplauso da multidão que ocupava as muitas arquibancadas. E eu arrasada, claro.

Sai feito bala da livraria. Cheguei ao escritório e ninguém tinha retornado. Coloquei bolsa em cima da mesa e comecei a trabalhar. Lá pelas 17 horas pego minha bolsa para achar algo e me surpreendo com o que vejo ao lado da bolsa. Não é que o livro que eu folheei na livraria enquanto esperava a mulher-que-falava-sem-parar e lutava contra a irritação estava ali. Como? Pensei. Como este livro veio parar aqui?

Gelei, paralisei, emudeci quando me dei conta da situação. Eu saí da livraria com o livro na mão, sem perceber que estava com o livro na mão e sem pagar o dito cujo. Qual o nome disso? pensei. Minha cabeça a bom processar as informações dos crimes do Código Penal Brasileiro. Pronto, sou uma criminosa, cometi um delito, furtei.

Logo o desconforto tomou conta de mim. Como pude fazer isto? E se alguém visse a cena e fosse atrás de mim na rua? Eu poderia ter sido presa como ladra. Imaginei logo a manchete no jornal no dia seguinte, com a minha cara estampada na pagina policial. E o pior: o jornal era o Extra.

Estava mesmo paralisada com a descoberta, até que superei o trauma, peguei o livro e vi o preço: R$ 19,00. Pai do Céu, pensei, ser acusada de furto por causa de um livro de R$ 19,00?!

Nesse momento chega uma colega de trabalho e vê a cena. Pergunta-me: o que houve? Que cara é essa?

Nem respondi. Peguei a bolsa, o livro e sai apressada. Entrei na livraria e perguntei: quem é o gerente? Fui até ele e contei tudo o que tinha ocorrido. Ele me olhou com uma cara espantada e ficou calado, mudo. E eu sem entender aquela reação, mas completamente constrangida, disse: moço, quero pagar o livro.

Pelo olhar e atitude dele não tive dúvidas sobre o que ele estava pensando: essa mulher é louca.

Paguei o livro, pedi para embrulhar e fui embora, sentindo um grande alívio.

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